sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Tempo demorante

Como a maioria das manhãs, chegando em cima da hora na escola e preocupada em não encontrar o portão fechado, a mãe sugeriu ao filho:
- Desce do carro e segue para a entrada da escola, porque se tu me esperar, até que eu estacione e recolha o material, o portão poderá estar fechado.
O menino imediatamente devolveu:
- Claro né, porque velha como tu tá, o teu tempo é bem demorante mesmo...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

EDUCAÇÃO INFANTIL, DIVERSIDADE E COTIDIANO

    A Educação infantil, primeira etapa da educação básica, teve sua legitimidade  reconhecida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394, promulgada em 20 de dezembro de 1996.
A integração de educação Infantil, no âmbito da Educação Básica, como direito das crianças de 0 a 6 anos e suas famílias, dever do Estado e da sociedade civil, é fruto de muitas lutas desenvolvidas por educadores e alguns segmentos da sociedade nos últimos anos.
Infelizmente, a preocupação com o bem estar e o desenvolvimento global é algo recente. Philipe Ariès, em sua obra: “A História Social da Criança e da família”(1978), mostra como o conceito de criança tem evoluído através dos séculos e oscilando entre os pólos que ora o consideram um “bibelot” ou “bichinho de estimação” ora num” adulto em miniatura”, passível de encargos e abusos como os da negligência, do trabalho precoce e da exploração  sexual.
Zabalza (1998), brilhantemente ilustra a história da infância dividindo-a em três momentos que identifica como “primeira, segunda e terceira identidades”.
A primeira identidade refere-se à “criança-adulto” onde a infância é negada, o que ocorreu no período entre a idade média e o início da idade moderna.
A criança, desde que era desmamada, era considerada companheira natural do adulto. Aos sete anos recebia sua carteira de identidade jurídica que a reconhecia como “capaz de entender e querer”. Sob este aspecto, a criança poderá ser incriminada penalmente, trabalhar para seu sustento, ser deslocada de sua família e colocada como aprendiz para ser educado.
A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental. O movimento da vida social envolvia adultos e crianças, não dando tempo à ninguém para a solidão e a intimidade.
Neste período, a criança não aparece nem como centro da sociedade nem como centro da família, mas está presente onde quer que haja pessoas se encontrando ou mantendo qualquer tipo de relação. A educação e a instrução eram ministradas por todos: pais, mestres, companheiros de oficina, vizinhos, comerciantes etc.
A idéia de criança-mistério, alimentada pela crença que nela escondia-se uma natureza sagrada, que o homem não podia profanar , e a imagem da criança como “humanidade na lista de espera” fez com que o mundo adulto a jogasse e abandonasse no mundo a fim de “aprender”, sem mediações nem intervenções, fazendo-a viver como um “adulto em miniatura”.
A segunda identidade caracteriza a “criança-filho-adulto” também conhecida como a infância institucionalizada.
No século XVIII, ao surgimento da família moderna, a infância torna-se o epicentro do interesse dos adultos. O controle se torna mais efetivo e, quando sair do controle da família, a  criança entrará no controle das instituições, no entanto, a importância que lhe é dada na família, é fruto de uma nova organização sócio-cultural, muito mais que uma descoberta da criança.
A escola passa a substituir o sistema de aprendiz tradicional e introduz uma função mais específica, dirigida à inculturação e à socialização. À família, cabe o compromisso com a educação afetiva e ético-comportamental.
Nesta perspectiva só é possível ser criança na condição de filho x aluno, numa estrutura de relações de propriedade e poder, sendo negada à infância a possibilidade de situar-se autonomamente, criando-se a criança padronizada, que segue clichês, homogeneizada.
A terceira identidade é atribuída à criança “sujeito-social”, a infância de hoje que conseguiu, finalmente, desembarcar na praia da liberação – emancipação, que despiu a pesada armadura da privatização familiar e do isolamento escolar, obteve-se enfim, o reencontro da infância.
Zabalza, a respeito da criança sujeito social, afirma:
“A etapa histórica que estamos vivendo, fortemente marcada pela “transformação” tecnológica e pela mudança ético-social, cumpre todos os requisitos para tornar efetiva a conquista do último salto na educação da criança, legitimando-a finalmente como figura-social, como sujeito de direitos enquanto sujeito social” (ZABALZA,1998, p.68).
No Brasil, este marco ocorreu com a Constituição Federal de 1988, propondo uma visão de criança como sujeito de direitos. Esses direitos foram regulamentados no Estatuto da criança e do Adolescente (Lei Federal nº 8.969/90), explicitada uma concepção da criança cidadã “que significa entendê-las como sujeitos de direitos, que merecem proteção integral, por que se encontram em condições especiais de desenvolvimento” (MÜLLER, 1997; in CADERNOS PEDAGÓGICOS PREF. MUN. PORTO ALEGRE,p.13)

No entanto, o fato de termos uma legislação específica para a infância, não tem garantido que direitos sejam respeitados. A discriminação racial, a falta de suporte para portadores de necessidades especiais, as questões de gêneros, enfim a garantia ao respeito à diversidade,  ainda é um caminho a ser percorrido.
A educação de crianças dos Zero aos cinco anos,  com foco na diversidade é um desafio que exige muita sensibilidade e conhecimento. Todos os  seres humanos são únicos , e não são apenas as diferenças de cultura, de gênero ou as chamadas necessidades especiais que determinam tal unicidade. No entanto, apesar de esse conceito já fazer parte do senso comum, lidar com a diversidade na escola  e no cotidiano ainda é um tabu para muitos pais e educadores.
Infância, gênero, sexualidade têm suscitado várias inquietações e infinitas perguntas. Trabalhar com as diferenças e com os diferentes traz cotidianamente desafios para pais e professores.
Tradicionalmente a escola tem sido marcada em sua organização por práticas de critérios seletivos, baseados em concepções homogeneizadoras,  que resultam na rotulação de alguns alunos. Percebe-se isso através da abordagem curricular, que não prevê as diferenças culturais, de gênero, de aprendizagem, enfim, a diversa gama de individualidades.
Segundo a apostila produzida pela secretaria de educação especial- (MEC,2007, p.59):
 “ ...o não reconhecimento da diversidade como um recurso existente na escola e o ciclo constituído pela rotulação, discriminação e exclusão do estudante, contribuiu para aprofundar as desigualdades educacionais ao invés de combatê-las. A fim de equiparar as oportunidades para todos, os sistemas educacionais precisam promover uma reforma profunda, cuja característica central deve ser a flexibilização do conteúdo curricular e o modo como o currículo é incorporado à atividade escolar"

Nesta perspectiva, objetivamos com esta ferramenta digital, despertar nos professores e pais o respeito à diversidade, sendo desenvolvida desde a educação infantil, num trabalho diário e contínuo. 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro:  Zahar,1978.
BRASIL. Lei 9394, de 1996. Dispõe sobre a lei de diretrizes e bases e dá outras providências. Brasília, 1996.
DUCK, Cynthia. Educar na Diversidade: material de formação docente. Brasília: Mec, Seesp, 2007.
MÜLLER, Verônica Regina. A Criança como Sujeito de Direitos. Texto do Seminário Nacional. Maringá (PR): 1998.
PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal. Proposta Pedagógica de Educação Infantil. (Cadernos Pedagógicos 15). 2. ed. Porto Alegre: rev. e ampliada.
PÁTIO, Educação Infantil - revista. ano VI,nº 16- Artes Médicas, março/junho 2008.
ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998

SOLIDARIEDADE

             A solidariedade é um valor a ser desenvolvido desde a mais tenra idade. Clique no link abaixo e visualize a animação que ilustra o valor deste sentimento. 


http://www.lucianeferrazarroiodosratos.xpg.com.br/

LITERATURA INFANTIL PROMOVENDO A DIVERSIDADE

A abordagem dos temas da diversidade nas histórias é uma forma de ilustrar e despertar as crianças para as diferenças. Abaixo algumas sugestões de livros sobre o tema:





                           

EDUCAÇÃO NÃO TEM COR - REVISTA NOVA ESCOLA

           A discriminação racial vem nos acompanhando pelo correr dos séculos. Mesmo sendo considerado crime pelo código penal brasileiro, ainda presenciamos situações de intolerância cotidianamente. A revista Nova Escola, no artigo exibido abaixo, aborda a importância do professor no combate e disseminação do Preconceito Racial.


Educação não tem cor

Com discussões e projetos bem elaborados, é possível combater o preconceito racial que existe, sim, na escola. Está nas suas mãos, professor, o sucesso dessas crianças, negras e brancas, como alunas e cidadãs

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A aluna Roseane queria ter os cabelostrançados como os da colega Juliana:ampliação dos padrões de beleza. Foto: Ricardo B. Labastier/ Sorvo
Roseane Souza de Queirós, 8 anos, tem os cabelos lisos e claros, mas queria que eles fossem trançados e escuros como os da colega de sala de aula Juliana Francisca de Souza Claudino, uma garota negra também de 8 anos. Um dia, apareceu com o mesmo penteado afro. A atitude de Roseane surpreende. É muito, muito mais comum a criança negra desejar se parecer com a maioria dos heróis dos contos de fadas europeus, com as modelos estampadas em revistas e jornais e com os colegas que recebem maior atenção em sala, todos brancos e loiros. As duas meninas participam sistematicamente de discussões e projetos anti-racistas na Escola Classe 16, no Gama (DF). O desejo de Roseane é um exemplo concreto de que é possível combater na escola preconceitos e estereótipos enraizados.
E prova, de acordo com especialistas, que uma das saídas para o fim das desigualdades educacionais do Brasil está em enfrentar as desigualdades raciais que estão presentes, sim, no ambiente escolar. Quer ver como? A começar pelo currículo. A história e a cultura negras têm pouco ou nenhum destaque, diferentemente da cultura européia. Em um país com 44% de população afro-descendente, quantas pessoas conhecem a rainha Nzinga, líder da libertação do reino africano Ndongo em 1660, ou Dandara, guerreira do Quilombo dos Palmares, ao lado de Zumbi?

Outro dado: a participação das crianças negras na última série do Ensino Médio representa a metade da registrada na 4ª série. Já os brancos somam 44% dos alunos da 4ª série, mas totalizam 76% na 3ª série do Ensino Médio. Mais: a escolaridade média de um negro com 25 anos gira em torno de 6,1 anos. Um branco da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo. Dessa maneira, é possível concluir que crianças negras, como Juliana, enfrentam muitos obstáculos para permanecer na escola. E, sem dúvida, está nas mãos dos professores o futuro delas como alunas e cidadãs, defensoras de seus direitos.

Portanto, eis uma demanda urgente para você: ampliar a discussão e os projetos pedagógicos que privilegiem a igualdade racial. Desde maio, com a aprovação da Lei nº 10.639, é obrigatório o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira em todas as escolas de Ensino Fundamental e Médio. Para ajudá-lo a se adequar, mostramos os principais erros e acertos sobre as questões raciais e projetos pedagógicos que valem como inspiração para trabalhar o assunto em novembro, mês de comemoração da consciência negra, e durante o ano todo.

Passado e presente de discriminação 


Uma boa medida para entender o impacto do preconceito e da discriminação na vida escolar é analisar a biografia de professores negros. Quem é a professora de Juliana e Roseane, que conseguiu ampliar padrões de beleza na sala de aula?

Marizeth Ribeiro da Costa de Miranda, 39 anos, escolheu a profissão movida por suas experiências pessoais de racismo na escola e fora dela. Dois momentos são extremamente marcantes na trajetória de estudante de Marizeth: um passeio de coleira pelos corredores da escola (um colega quis reproduzir uma imagem de escravos mostrada no livro de História) e o tapa que levou de uma professora, quando conversava com uma colega branca na sala de aula. Somente Marizeth foi repreendida. "Precisei de muita força para não desistir dos estudos. Mas segui minha vida escolar calada", afirma.

O silêncio é uma constante nas relações raciais. De forma consciente, como fez Marizeth, ou inconsciente, como agem os que não sabem lidar com o assunto. Desse modo, tornou-se natural tratar a história do negro apenas na perspectiva da escravidão e aceitar padrões estéticos e culturais de uma suposta superioridade branca. Sobre isso, disse o líder negro americano Martin Luther King (1929-1968): "Temos de nos arrepender nessa geração não tanto pelas más ações das pessoas más, mas pelo silêncio assustador das pessoas boas".
O relato de vida de professores negros foi tema de um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais. As histórias que fazem parte da pesquisa se confundem em muitos pontos. Apelidos, xingamentos e discriminações são experiências vividas por todos os entrevistados. "Todos deixaram por algum período a escola, seja por problemas financeiros, seja por falta de motivação. As singularidades estão expressas na forma como cada um reagiu ao preconceito e à discriminação racial e nos processos pelos quais, gradativamente, chegaram a perceber a condição do negro no Brasil", conta Patrícia Santana, professora responsável pela pesquisa.
A cultura negra em sala de aula
ERROS 

- Abordar a história dos negros a partir da escravidão.

- Apresentar o continente africano cheio de estereótipos, como o exotismo dos animais selvagens, a miséria e as doenças, como a aids.

- Pensar que o trabalho sobre a questão racial deve ser feito somente por professores negros para alunos negros.

- Acreditar no mito da democracia racial.
ACERTOS 

- Aprofundar-se nas causas e consequências da dispersão dos africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão.

- Enfocar as contribuições dos africanos para o desenvolvimento da humanidade e as figuras ilustres que se destacaram nas lutas em favor do povo negro.

- A questão racial é assunto de todos e deve ser conduzida para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, de europeus e de outros povos.

- Reconhecer a existência do racismo no Brasil e a necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana.
 Na infância, parece que somos iguais 
A história de Creuza Maria de Souza Yamamoto, professora da rede municipal de São Paulo, comprova os resultados da dissertação. Ela só se deu conta do racismo na vida adulta. "Na infância, parece que somos todos iguais e eu tentava me enxergar como meus colegas brancos. Mas minha cor era sempre motivo de piadas", lembra. Atenção e carinho dos professores não fazem parte das lembranças de Creuza. Ela ouviu mais de uma vez frases do tipo: "Ah... esses alunos são burros. Não dá para esperar muito deles". Adulta, optou pelo magistério e, na sala dos professores, o preconceito permanecia o mesmo. "No auge de uma discussão com uma colega, ouvi que meu lugar era na cozinha e não em sala de aula", conta. Creuza era a única professora negra da escola. Hoje, em outra escola, a primeira atividade que faz ao assumir uma turma nova é medir a intensidade do preconceito em seus alunos. Bonecas negras e brancas são colocadas no centro da sala de aula para chamar a atenção das crianças. "Infelizmente, quase sempre as bonecas negras são ignoradas, até mesmo pelos alunos negros."

Relação melhora com discussões 

A escolarização significou para Marizeth, Creuza e os personagens ouvidos por Patrícia Santana uma possibilidade de ascensão social. E se tornar professor, além de ser um caminho para a melhoria de vida, foi uma escolha política. "Eu não quero que meus alunos negros sofram o tanto que eu sofri", afirma Marizeth. Assim, sempre que possível, elabora projetos pedagógicos e lança discussões sobre as relações raciais em sala de aula. O trabalho tem dado resultado. A relação entre os alunos negros e brancos está melhor e com a valorização da cultura negra, agora Juliana sabe que pode ficar bonita com suas tranças, diferentemente do que acontecia com a menina Marizeth. "E pensar que eu tinha a cabeça cheia de feridas por causa do creme que meu pai aplicava para alisar meus cabelos", lembra, emocionada. Esses exemplos valem uma reflexão: com quantas situações de preconceito e discriminação você depara todos os dias?

Lei institui valorização da África 

Da geração das professoras Marizeth e Creuza à de Juliana e Roseane, os negros alcançaram importantes conquistas na educação. E somente agora há sinais concretos de mudanças para o futuro nas relações inter-raciais. Primeiro foram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que orientam a promoção da igualdade em um dos temas transversais, Pluralidade Cultural. Mas um passo muito maior e mais significativo para o ensino foi dado com a Lei no 10.639. "A legislação rompe com a ordem dos currículos ao propor um novo conhecimento científico contrário à superioridade da produção cultural europeia", afirma Eliane Cavalleiro, pedagoga e coordenadora-geral de Diversidade e Inclusão Educacional do Ministério da Educacão (MEC). Ou seja, o mundo não se resume às conquistas e derrotas do continente europeu.

O documento determina que a história da África seja tratada em perspectiva positiva, não privilegiando somente as denúncias da miséria que atinge o continente. A importância dos anciãos na preservação da memória e a religiosidade, por exemplo, passam a fazer parte dos conteúdos, assim como o conhecimento da contribuição dos egípcios para o desenvolvimento da humanidade. As marcas da cultura de raiz africana devem ser ressaltadas particularmente em Artes, Literatura e História do Brasil. E mais. Os professores precisam valorizar a identidade negra e ser capacitados para destruir o mito da democracia racial no Brasil, criado durante o regime militar (1964-1985). "Quem estudou nas décadas de 1970 e 1980 aprendeu nos livros que o apartheid era um fenômeno de segregação racial restrito à África do Sul e que no Brasil não existia racismo. Não podemos mais acreditar nisso", afirma Cidinha da Silva, historiadora e presidente do Instituto da Mulher Negra (Geledés), de São Paulo.

Pesquisas e música afro 

A lei só sairá do papel se você tiver acesso a material e formação sobre a temática racial na educação. Portanto, agora é hora de buscar bibliografia sobre o assunto, eleger o tema para discussão em grupos de estudos e fomentar a criação de cursos em sua escola e cidade sobre educação anti-racista.

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo distribuiu 58 mil livros de literatura e de formação para a maioria das escolas da cidade. Foi lançado um kit com 40 títulos que valorizam a cultura e a identidade negra, como Menina do Laço de Fita, de Ana Maria Machado, e Felicidade Não Tem Cor, de Júlio Emílio Braz. O pacote inclui capacitação a 3 mil coordenadores das salas de leituras de escolas paulistanas. "Nossa opção de promover uma prática de igualdade racial parte de uma bibliografia. Esse é apenas um caminho", afirma Marilândia Frazão, assessora de assuntos de política pública e ações afirmativas da secretaria de Educacão de São Paulo.

Algumas cidades têm trabalhos na mesma linha e o resultado aparece nos projetos que começam a pipocar. O professor de História Eduardo Benedito Leite de Almeida, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. João Alves dos Santos, em Campinas (SP), explorou a pesquisa científica com turmas de 7ª série em um trabalho interdisciplinar. Entrevistas, questionários, leitura de livros, revistas e jornais, seminários, confecção de cartazes, desenhos, charges e histórias em quadrinhos ocuparam os alunos por todo o ano letivo. Os temas eram variados, mas todos ligados às relações inter-raciais. Um grupo de alunos pesquisou com moradores da comunidade ao redor da escola se existia racismo no Brasil, outro registrou tudo sobre as festas religiosas africanas e um terceiro conheceu manifestações folclóricas, como a congada.

Leitura e interpretação de indicadores sociais sobre a população negra foram feitas nas aulas de Matemática. Um dos objetivos do projeto era a produção de material de pesquisa. Assim, tudo era registrado em vídeo, fotografias ou artigos publicados no jornal da escola, como a oficina de maracatu. Nessa etapa, o professor contou com a participação de um grupo do movimento negro, que ensinou aos alunos a importância das batidas e dos significados desse ritmo africano. Uma das orientações da Lei nº 10.639 é contar com os membros do movimento negro para elaborar projetos pedagógicos. "O trabalho ainda não acabou, mas já é possível perceber mudanças significativas no tratamento entre os alunos e no interesse pelas coisas da África", conta Eduardo.

O projeto foi um dos vencedores do prêmio Educar para a Igualdade Racial, promovido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), de São Paulo. Uma ótima fonte de experiências sobre combate ao racismo nas escolas. "O próximo passo é estabelecer indicadores de uma boa prática em classe. Ainda há disparidade entre o discurso de reconhecimento do racismo e as atividades pedagógicas", diz Isabel Aparecida dos Santos, assessora pedagógica do Ceert.

A identidade da criança negra 
O trabalho de educação anti-racista deve começar cedo. Na Educação Infantil, o primeiro desafio é o entendimento da identidade. A criança negra precisa se ver como negra, aprender a respeitar a imagem que tem de si e ter modelos que confirmem essa expectativa. Por isso, deve ser cuidadosa a seleção de livros didáticos e de literatura que tenham famílias negras bem-sucedidas, por exemplo, e heróis e heroínas negras. Se a linguagem do corpo é especialmente destacada nas séries iniciais, por que não apresentar danças africanas, jogos como capoeira, e músicas, como samba e maracatu?

Em Artes, a professora Simone Marambaia Lins de Carvalho, da Escola Fundação Bradesco, no Rio de Janeiro, trabalhou máscaras africanas com turmas de 1ª série. Um dos eixos do projeto Ser Negro, sem Preconceito era desmitificar estereótipos da África. Os alunos pesquisaram curiosidades do continente africano até chegar à arte, como a cultura de Benim, na Nigéria, produtora de máscaras religiosas. Papelão, tinta e cola renderam modelos coloridos e divertidos para afastar os maus espíritos. Para a compreensão da realidade atual do negro no Brasil, a turma conheceu como era o cotidiano das crianças na época da escravidão, analisando imagens. As obras de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que foram comparadas às fotografias publicadas em jornais atuais, dão um panorama crítico da situação do passado e do presente. "Ainda há muito sofrimento e violência contra a criança negra, mas o contraponto do projeto estava na alegria e na majestade da cultura africana", explica a professora. Tudo como deve ser. Sem constrangimentos nem mitos equivocados.
Um histórico das lutas e conquistas recentes
A ciência dos séculos 18 e 19 considerava que os brancos possuíam maior capacidade intelectual. Depois vinham os índios e, por último, os negros. Alguns estudos afirmavam que os negros se situavam abaixo dos macacos. "Qualquer que seja o grau dos talentos dos negros, ele não é a medida dos seus direitos", Thomas Jefferson (1743-1826), político americano.

1948 - Uma das mais significativas experiências de mobilização negra foi o jornal Quilombo, editado no Rio de Janeiro. A edição nº 0, ano 1, trazia a seguinte afirmação: "Nos dias de hoje a pressão contra a educação do negro afroxou (sic) consideravelmente, mas convenhamos que ainda se acha muito longe do ideal".

1949 - 1º Congresso do Negro Brasileiro. Temas abordados: sobrevivências religiosas e folclóricas; formas de luta (capoeira de Angola, batuque, pernada); línguas (nagô, gegê, língua de Angola e do Congo, as línguas faladas nos anos de escravidão).

Década de 1950 - Iniciam-se os primeiros estudos sobre preconceitos e estereótipos raciais em livros didáticos no Brasil.

Décadas de 1960 e 1970 - Os militares oficializaram a ideologia da democracia racial e a militância que ousou desafiar esse mito foi acusada de imitadora dos ativistas americanos, que lutavam pelos direitos civis. O mito da democracia racial persiste até hoje.

Década de 1980 - Retomada dos estudos sobre preconceitos e estereótipos raciais em livros didáticos. Os resultados das pesquisas apresentam a depreciação de personagens negros, associada a uma valorização dos brancos.

1984 - Em São Paulo, a Comissão de Educação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-Brasileiros promoveu discussões com professores de várias áreas sobre a necessidade de rever o currículo e introduzir conteúdos não discriminatórios.

1985 - A comemoração de 13 de maio foi questionada pela Comissão por meio de cartazes enviados às escolas do estado de São Paulo. O material também exaltava 20 de novembro como data a comemorar a consciência negra.

1986 - A Bahia inseriu a disciplina Introdução aos Estudos Africanos nos cursos de Ensino Fundamental e Médio de algumas escolas estaduais atendendo a antiga reivindicação do movimento negro.

1996 - Entre os critérios de avaliação dos livros didáticos comprados e distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foram incluídos aqueles específicos sobre questões raciais.

1998 - Inclusão da Pluralidade Cultural entre os temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

2003 - A publicação da Lei no10.639 tornou obrigatório o ensino da História da África e dos Afro-brasileiros no Ensino Fundamental e Médio.

Fonte: estudos e pesquisas de Benilda Regina Paiva de Brito e Fúlvia Rosemberg
Quer saber mais?
Contatos 
Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), R. Duarte de Azevedo, 737, 02036-022, São Paulo, SP, tel. (11) 6978-8333, internet: www.ceert.org.br

Escola Classe 16, Q 06 área especial, setor Sul, 72415-060, Gama, DF, tel. (61)556-2553

Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. João Alves dos Santos, Estr. dos Amarais, 635, 13067-170, Campinas, SP, tel. (19) 3281-2694

Fundação Bradesco, R. Haddock Lobo, 253, 20260-131, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2503-1664

Bibliografia
Almanaque Pedagógico Afrobrasileiro
, Rosa Margarida de Carvalho Rocha, 167 págs., Ed. Mazza, tel. (31) 3481-0591, 29 reais

Revista Pátio - Caminhos da Inclusão

   
Na edição de número 16, a Revista Pátio - Educação infantil, aborda várias questões perinentes à inclusão e à diversidade, entre elas:

  • A brincadeira na inclusão Social;
  • Gênero e sexualidade no cuidar e educar;
  • Escola não é lugar de homem;
  • Processos Inclusivos na educação infantil.
       Vale a pena conferir,

terça-feira, 15 de novembro de 2011

EDIÇÃO DE IMAGENS

          Nas Escolas de Educação Infantil, a fotografia é material de utilização diária de educadores e pais, que querem registrar momentos especiais de conquistas e descobertas. Uma ferramenta fácil de utilizar e que dá subsídios para deixar as imagens mais belas e/ou com efeitos especiais é o GIMP. Um software livre, que pode ser manuseado por qualquer pessoa sem a necessidade de suporte técnico.
       Nas imagens abaixo, alguns recursos do GIMP:




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FESTA DOS PAIS

               Socializar  com a comunidade escolar momentos especiais, também diminui as diferenças e oportuniza a valorização do diverso. Na EMEI Nei Berbigier, em Charqueadas, para brincar só é preciso querer, não tem idade, nem sexo, nem cor. Um bom exemplo foram as atividades realizadas em comemoração ao DIA DOS PAIS. 


PORTIFÓLIO DE IMAGENS

                 Charqueadas situa-se à aproximadamente 50 km da capital, Porto Alegre. Uma cidade onde a diversidade permeia espaços e ações. Na apresentação abaixo um olhar sobre a cidade, apresentando espaços de recreação e encontros, de reclusão e de educação

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ESCOLA NEI BERBIGIER - RESPEITO À INFANCIA E À DIVERSIDADE

             Situada em Charqueadas, no RS, a EMEI Nei Berbigier vem trabalhando no sentido de evoluir no trabalho educacional e garantir o respeito às diferenças. No documentário, alguns professores e monitores infantis falam um pouco desta escola.

Trabalhando a diversidade na Educação infantil

Trabalhar a diversidade deve ser ponto constante do planejamento do educador, as falas, as ações, os exemplos estão permeados de atitudes que alimentam o preconceito ou valorizam a diversidade. A fim de destacar a importância de vivenciar a diversidade cotidianamente,  implementar um projeto com objetivos bem definidos é uma forma de envolver alunos e comunidade na direção do respeito às diferenças.
O vídeo abaixo é uma boa sugestão para a introdução do tema para alunos de educação infantil:

terça-feira, 26 de julho de 2011

ATENÇÃO ÀS FALAS DAS CRIANÇAS

Estar atento às falas das crianças e seus questionamentos permite que eles elaborem conceitos e se desvenciliem de preconceitos.
Presidente
- Mãe, o pai é Presidente do Sindicato??
- Sim, filho.
- Então porque ele não usa terno e gravata? Porque os caras aqui do lado (advogados que trabalham no escritório próximo de casa) tão sempre de terno, gravata e até de sapatinho...

Cobra na laranja

Comendo uma laranja, o menino fala:
- Mãe, existe cobra na laranja?
- o que?
- existe cobra na laranja?
E observando atentamente a ponta do dedo, completou:
- Por que esta aqui tá se mexendo...

A Morte

Num momento  a dois, mãe e filho falam sobre o fim da vida...
 - mãe, tu vai morrer?
- claro filho, todos nós morremos um dia..
- eu vou morrer no mesmo dia que tu.
- não... vai demorar muito pra ti morrer.
- mas eu preciso ficar na mesma estrela contigo....

terça-feira, 7 de junho de 2011

Se assim somos é porque assim imitamos por Celso Antunes

Aqui sentado no saguão, observo a agitação das pessoas ano aeroporto.

Alternam-se sensações de expectativa com tédio, espera paciente ou fúria por atraso que não se explica. Alguns andam de um lado para outro, outros tentam se concentrar em uma leitura e existem os que fogem do marasmo, perdidos em palavras cruzadas ou nos desafios dos números impossíveis do Sudoku. Cada pessoa é proprietária exclusiva de uma identidade que a faz singular e entre tantos tipos humanos nenhum se iguala nem em aparência, menos ainda em sentimentos. Parece incrível que todos são originários dos mesmos antepassados e que centenas de milhares de anos, lá na profundeza das cavernas se esculpia as diferenças de agora que este apinhado saguão de aeroporto exibe. Mas, não pode existir espaço para a dúvida, quando a certeza da ciência o ilumina: a quase totalidade dos comportamentos e procedimentos adultos baseia-se no que absorveram por imitação durante sua infância. Se a antropologia nos iguala, a educação nos diferencia.

Esta incrível diversidade de comportamentos fala-nos muito alto sobre a importância da educação infantil.

Se agirmos de certa maneira, se preferimos esta ou aquela fórmula para administrar nossa impaciência ou para esconder a insegurança, o fazemos não porque geneticamente existem códigos herdados, mas por pura obediência a um conjunto de impressões imitativas, arraigadas em nosso comportamento, aparentemente “esquecidas” em nossas lembranças, mas certamente conquista junto aos modelos com os quais crescemos. É justamente em obediência a essa permanente cópia que é tão difícil às sociedades a mudança de suas crenças e que tragédias gregas pensadas há milhares de anos possam ser adaptadas a novelas que parecem esculpidas no cotidiano. Um adulto é assim comportamentalmente, bem menos a combinação genética que o fez singular e essencialmente a resposta aos pais que o acolheu, os amigos que o ensinaram, os programas dos quais participou ou professores que os esculpiram.

Essa incrível diversidade de comportamentos reitera a importância inquestionável da educação infantil.

Se desejarmos que os seres humanos se aprimorem, se pretendemos que a busca pelo amor saia dos jargões e se transforme em pratica, se almejamos que a geração que agora vive prepare um mundo ainda melhor para a que logo mais chegará, pouco há fazer quanto a estrutura molecular do corpo humano, muito resta debater sobre como educamos nossas crianças. Educar é preciso que se diga, não apenas no sentido de instruir, informar, abrir competências, estimular significações, mas educar no sentido de ensinar afeto, propor desafios, ajudar construir e preservar amizades, mostrar alternativas ao tédio, à agressão, à raiva e à tristeza.

O vôo que espero agora é chamado. Desligo-me de pensamentos e paciente me alinho na fila do embarque, esquecendo a prioridade dos mais velhos da qual na realidade ninguém se lembra. Não adiante culpá-los pela precipitação e menos ainda dizer que não se respeitam privilégios. Se assim somos e assim nos comportamos é pela educação infantil que tivemos.
Se sonharmos um amanhã melhor e espaços mais civilizados temos que continuar batendo na insensível tecla de que a educação infantil é tudo, o resto quase nada

terça-feira, 24 de maio de 2011

SEJAM BEM VINDOS

Este espaço servirá para postagens de atividades e particularidades de meu trabalho na Educação Infantil. Sejam Bem vindos